Entrevistas

Marcos Bagno - PNAIC UFSCar Entrevista

O PNAIC UFSCar inicia suas ações de divulgação científica de 2016 com uma abordagem voltada também ao audiovisual. Nosso objetivo é o de produzir uma série de entrevistas com professores e pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, buscando, sempre, orientar nossas reflexões para o contexto do ciclo de alfabetização.

Nosso primeiro entrevistado é o Professor Marcos Bagno, da Universidade Nacional de Brasília. Bagno é doutor em Filologia e Língua Portuguesa, e professor-adjunto do departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da UNB.  É um dos maiores nomes da Sociolinguística do país, área do saber que estuda a maneira como as pessoas usam a língua em sua relação de forças com a sociedade, abordando, dentre outras questões, as normas culturais.

Pensando em uma melhor visualização do vídeo do professor Marcos Bagno, o organizamos por tópicos que, mesmo inter-relacionados, podem ser, também, acompanhados um a um:

  1. O que é Preconceito Linguístico? [00:13]
  2. Como se faz Preconceito Linguístico? [05:11]
  3. O que é o círculo vicioso do Preconceito Linguístico? [08:06]
  4. Quais as diferenças entre documentos antigos e os Parâmetros Curriculares Nacionais ao abordarem o Preconceito Linguístico? [11:21]
  5. Como o professor pode desconstruir o Preconceito Linguístico? [17:49]
  6. Como podemos estabelecer uma relação entre o Preconceito Linguístico e a formação ética do aluno? [20:49]
  7. Como ensinar a norma padrão sem incentivar o Preconceito Linguístico? [23:15]

Além da entrevista, o professor Marcos Bagno generosamente nos brinda com reflexões a propósito do letramento nos anos iniciais:

O processo de alfabetização/letramento é uma das etapas mais importantes da vida de qualquer pessoa, especialmente de uma criança. O acesso à cultura letrada representa a entrada do indivíduo num universo muito mais amplo e infinitamente mais complexo do que o de seu círculo sociocultural primeiro. Isso representa para quem alfabetiza uma responsabilidade que não pode ser menosprezada. O agente alfabetizador precisa ter absoluta consciência de seu papel social e político na formação de cidadãs e cidadãos. Essa consciência só pode ser adquirida com uma sólida formação no campo da educação, da linguística, da psicologia e dos direitos humanos. A escrita e a leitura são conhecimentos e competências que constituem bens sociais inalienáveis e, por isso, não podem ficar restritas a parcelas privilegiadas da população. O letramento tem um potencial libertador incalculável. Uma escola democrática e republicana tem de ser um espaço de crítica e de combate a toda forma de discriminação, um lugar de recusa dos mecanismos seculares de exclusão social que, infelizmente, têm agido ao longo da história da formação da sociedade brasileira. Este é um país marcado pelo racismo, pelo sexismo, pela manutenção sistemática da pobreza, pelo uso perverso da linguagem – especialmente da linguagem escrita – como instrumento de marginalização da maioria do nosso povo. Toda pessoa tem o que dizer, mas isso não basta: é preciso também saber dizer o que se tem a dizer, tomar consciência da palavra, tomar consciência de que a palavra pertence a todos e a cada um. E levar a saber dizer é precisamente a função social e política do agente de alfabetização/letramento: abrir os caminhos para que cada indivíduo encontre, na infinita riqueza das palavras, aquelas que lhe permitam saber dizer o que tem a dizer. Se a escola cumprir essa tarefa inicial de ensinar cada pessoa a saber dizer, ela terá aberto as portas de um dos direitos mais fundamentais de todo ser humano que vive em sociedade: o direito de poder dizer.

Marcos Bagno
2016

 



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